Tá difícil
Não consigo postar a segunda parte
Devaneios, loucuras, filosofias, chinelagens, lariras, badernas, balbúrdias e tudo mais que o povo gosta, mas sempre usando a cabeça, por que aqui ninguém usa chapéu!
Nos primeiros 3 jogos o time não fez nenhum gol. O Sabonete driblava a zaga inteira, passava pelo goleiro e deva um balão para a torcida. Mágico. Um gênio. Humilhava o adversário. Mas os três pontos não vinham.
Nos primeiros 3 jogos o time não fez nenhum gol. O Sabonete driblava a zaga inteira, passava pelo goleiro e deva um balão para a torcida. Mágico. Um gênio. Humilhava o adversário. Mas os três pontos não vinham.
Banco.
Foi o único jeito que o Bigode encontrou para forçar o Sabonete a fazer o gol. Dois jogos na reserva. O homem se roía. Suplicava, prometia, “Deixa eu jogar, vou botar pra dentro! Eu Juro!” sabia que o Bigode gostava dele. Era seu melhor jogador.
“Vou te colocar, mas com uma condição: sem drible. Se tu driblar alguém, sai na hora!”
Entrou. E fez como o prometido. No primeiro tempo não driblou ninguém e guardou 5 gols. Um craque.
Quando voltou para o segundo, com o Bigode já faceiro, se descuidou. Primeira jogada, duas janelas, um lençol e um elástico. O coitado do volante adversário tinha espasmos caído no gramado.
“Sai!”, gritou o Bigode com a taturana acima da boca toda respingada de baba, e já levantou a placa de substituição.
“Por quê?”
“Objetivo!”
Saiu dando risada e dizendo “mas o cara nem me viu”.
No outro jogo o Bigode falou a mesma coisa: objetivo, sem drible. E aconteceu de novo, 3 gols só no primeiro tempo. No segundo mais dois, e no finalzinho uma carretilha e duas meia-luas. Saiu novamente.
“Por quê?”
“Objetivo!”
E assim foi até que o Sabonete virou centroavante. Gols em todos os jogos!
Toques certeiros, sempre de primeira, do jeito que dava: chutando, de coxa, cabeça, calcanhar, canela, ombro, barriga, joanete... não importava mais a beleza. OBJETIVO!
E em casa. Ahh em casa. Sua patroa o tinha agora só para si. Nunca mais chegou depois das 8. Era de casa para o trabalho, do trabalho para casa. Uma vida de sonho… Ou não.
Também não trazia mais mimos para ela. Não era mais só sorrisos nas festas. Aliás, não havia mais festas “tenho que me concentrar para o jogo de amanhã”, dizia ele com o cenho fechado, “senão o Bigode me tira, não esquece: Objetivo!”
Ele já não era mais o mesmo Wellington Leandro que ela amava. Transformou-se em um burocrata do futebol e um burocrata do amor. Não a procurava mais para falar aquelas maluquices de casal que lhe sussurrava ao pé do ouvido. Não poderia mais conviver com isso. Queria seu Sabonete de volta! Queria seu criativo de volta! Queria o seu bagaceiro de volta!
Naquele ano o Botafogo de Sapucaia ganhou tudo. Wellington Sabonete foi o maior artilheiro em uma só temporada de todos os tempos (em Sapucaia).
O tal do Bigode não cabia mais em si mesmo. Todos o parabenizavam, criara o maior centroavante que a Zona Norte de Sapucaia já conhecera. Venceu todos os Campeonatos e com resultados elásticos sempre.
Domingo. Residência do treinador. Depois de uma vitória esmagadora, com 3 gols do Sabonete -feios diga-se de passagem, um de canela, o outro trombando com o goleiro e no terceiro um carrinho arrancando tufos de grama- a equipe estava fazendo o tradicional churrasco da vitória.
Uma maravilha, o Bigode, como sempre, de assador, os jogadores tomando uma cervejada fortíssima, menos ele.
Sabonete ficava agora em um canto com uma televisão e um vídeo tape do jogo, analisando cada lance e querendo melhorar. Os outros o convidavam “Vamo tomá todas Sabonete! Tu meteu 3!”, ao que ele respondia: -“Tá loco! Podia ter feito 6! Mas no próximo não vou fazer tanta firula...”
Foi quando ela apareceu.
Óculos escuros, uma manta enrolada na cabeça, chapéu com abas largas. Parecia uma investigadora. O lagartixa, meia esquerda da equipe, que tinha “restrições” com a lei, até pensou em sair correndo, mas o treinador lhe disse que não era nada disso, que podia ficar calmo.
Bigode a levou para dentro de casa, só aí ela tirou os óculos e ele percebeu os olhos chorosos da mulher do Sabonete.
“Ele não pode mais ser centroavante!”
“Mas Tchê – ele era metido a gaudério – Ele agora é um santo! Não chega mais atrasado, não enche mais a cara, e não sei se tu sabia, o pessoal dizia que ele tinha umas amigas...”
“Eu quero ele na ponta direita.” Disse com uma voz quase inaudível, uma lágrima correndo a pele muito sedosa.
“Mas o cara é o melhor centroavante que eu já vi! Além de ser tudo que tu queria... Agora ele é só teu!”
“É só meu, mas não o MEU Sabonete.
Me devolve o craque do meu coração.
Me devolve o meu ponta-direta.”
E deu as costas pro Bigode, que só conseguia pensar uma coisa:
-Mulheres...
Ele era conhecido por Wellington Sabonete. Wellinton Leandro da Silva por parte da família, e Sabonete por parte dos companheiros de equipe, o Botafogo de Sapucaia. Sabonete por ser escorregadio, liso, criativo, difícil de segurar.
Era o típico ponta-direita, drible fácil, risada solta, jogava para a linha de fundo, não se importava com o gol, o que queria mesmo era o drible. Janela, lençol, carretilha, qualquer um.
Os zagueiros já o conheciam, ele ia levar a bola para o cantinho e tentar algum drible desconcertante.
“- Mas hoje não!”, pensavam eles “vou rachar ese cara!”.
E lá ia ele. Levava a bola até a bandeirinha, parava e olhava no fundo dos olhos do zagueiro, “vem…”, o zagueiro ia. Um touro, bufando, mirando o joelho esquerdo do Sabonete, ZÁZZZZZ… Uma paulada. “UUIIIII”, era a torcida depois da janela e do zagueiro caído no chão. E, como de costume, depois de entortar o defensor voltava o jogo. Nunca ía na direção do gol. Não era seu objetivo. A humilhação, a torcida gritando, a risadinha, a xacota, era disso que gostava.
Final do campeonato varzeano da AASNO – Associação Amigos da Praça Senador Norberto Osório – lá na famigerada Zona Leste de Sapucaia.
Jogo pegado, 1 x 1 no maior clássico sapucaiense. Botafogo de Sapucaia e Mercado do Bahia. A equipe do MDB, como era conhecida, vinha mordida por ter sido derrotada humilhantemente no ano anterior pela placar de 5 x 0, na mesma final. Esse era o ano da revanche.
O treinador Sílvio Bigode havia pedido ao Sabonete: “-Quando tu driblar o zagueiro, bate no gol! Não joga pra trás!”
O zagueiro parou na frente dele. Ginga pra cá, sassarico pra lá, golpe de caratê do zagueiro, meia lua do Sabonete. O zagueiro volta, voando, como se sua vida dependesse de roubar ou não aquela bola, e disfere um carrinho a meio metro do chão. Sabonete dá aquela cavadinha bem curtinha. A bola vai passando… passando… “vou pegar”, pensa o zagueiro, “estica pescoço!”, não deu. Lençol humilhante. Se dá por vencido, fica no chão, simula uma lesão e pede para sair. E o Sabonete como de costume volta todo o jogo. O Bigode arranca os parcos tufos de cabelo que lhe sobra.
Na concentração do time era sempre o homem que puxava o pagodão. Um festeiro. Um gênio, com a bola e sem ela. Se fosse um pouco mais concentrado e objetivo seria um Pelé.
Mas sua mulher já não aguentava mais. O amava. Como ninguém pode amar outra pessoa, o amava. Mas era demais. Nunca chegava antes da meia-noite. Sempre bêbado, sempre fedendo a perfume barato, mas sempre com um sorriso nos lábios e um mimo para sua amada.
Pois ele a amava também. Claro, a seu modo. Mas amava com a intesidade de um furacão.
Quando estavam juntos era só alegria. Ele falava coisas pra ela, destas que só se fala entre o casal, e sorria, sorria sempre. Um brincalhão. Nas festinhas da vizinhança era sempre o mais requisitado. Conhecido em Sapucaia por ser o maior animador de festas. Ao seu lado ela era a esposa mais contente do mundo.
Mas ela o queria sempre. Não só de vez em quando. Não só de dia.
Foi aí que aconteceu.
Chico Pata Dura, o centroavante do Botafogo de Sapucaia se lesionou. Uma entrada desleal. Dele. Sim, dele no zagueiro. Quase matou o zagueiro, mas se contundiu quando a cabeça do defensor chocou-se com a rótula de seu joelho. Seis meses parado.
O Bigode não queria, mas acabou colocando Sabonete como referência no ataque.
Aí o mundo do Sabonete mudou.
Continua…
Como era controverso aquele casal morador da Alvorada!
Ela, um doce de menina. Caseira, cozinheira, limpava a casa, inteligente e o mais importante de tudo FIEL! Aquilo que um homem sempre sonhou!
Mas ele… Ele era o maoir vagabundo da redondeza. Beberrão, sem-vergonha, bagaceiro de marca maior e o dançarino mais badalado do Pagode do Vadinho. Pagode este muito reconhecido e valorizado na formosa Zona Norte de Alvorada!
Infelizmente para a família de Larira, a mocinha se engraçou por Salgão. Foi numa destas noites no Pagode do Vadinho. Ela dançando recatada envolta por suas amiguinhas, todas de risadinhas para uma lado e para o outro. Ele se esbaldando nas negras e tenras carnes das mulatas do distinto lugar. Cruzaram olhares. Ele do alto de seus 1,85m, com todos os músculos e aquele viscoso bigode. Ela com seus 7cm de salto, recatada e sem maldade.
Toda a Zona Norte de Alvorada a avisou.
Não adiantou, estava completamente apaixona pelo mouro bigodudo.
Depois do casamento Larira passava noites e mais noites em claro sempre a esperar por Salgão. Ninguém entendia o por quê de tanta complascência.
Ele saía para os braços de outras, entornando o maior número de garrafas possíveis, claudicando de bar em bar.
Lá pelas 7 e meia da manhã voltava ele, com aqueles dentes alvos e alinhados. Um sorriso lindo e um ramalhete de flores debaixo do braço forte.
Sempre uma briga ferrenha! Todas as noites ela o açoitava! Todas as noites ela o largava! Sempre dizia que deixaria de amá-lo!
Ela o deixava todas as noites…
…para, depois de uma hora do amor mais incrível do mundo voltar a amá-lo.
Salgão e Larira são até hoje o casal mais feliz do Mundo (em Alvorada).
Vocês já viram que quando amamos nós aceitamos qualquer coisa?
É por isso que eu amo o Internacional.
Uma semana atrás eu o odiava! Ele me traía! Jogava como se eu não estivesse olhando. Jogava como se eu não me importasse! Eu não iria mais amá-lo, não o queria mais em minha vida! ADEUS INTER! Era o que eu urrava com os pulmões em fogo.
É então que vem Ele, com uma caixa de bombons e aquele presentão debaixo do braço.
Eu o aceito de volta.
Somos um só novamente. Aceito tudo! Até o Alecsandro.
Eu amo o Internacional.
Parabéns Grêmio!
O Campeão Mundial deste ano no Rio Grande do Sul. Sim!
Depois de um jogo com catimba, pancadaria, chutão para fora e tudo o mais que tem direito uma grande final, a equipe da Azenha sai vencedora, talvez do único torneio vencido pelo tricolor este ano. Pois, convenhamos, daqui para frente temos o campeão gaúcho jogando a Copa do Brasil, que provavelmente será vencida pelo Santos, e o Campeonato Brasileiro, no qual com certeza esta mesma equipe coadjuvará (como já vem fazendo a muitos anos).
Vou além. A equipe que vence um torneio de 4 em 4 anos deve comemorar desta forma. Campeão do Mundo!
Pode parecer, mas não se trata de grande ironia. Os amigos leitores deste espaço me conhecem a ponto de saber que para este modesto escritor de resenhas futebolísticas todo e qualquer campeonato, torneio ou copa, tem o peso e a importância de uma Copa do Mundo.
Não só torneios. Tanto é verdade que na Arena Zona Sul, todos os sábados, das 16 às 17 horas, tenho a minha Copa. Jogo como se estivesse na final na África do Sul. Quero vencer como se fosse a Argentina do outro lado. E odeio perder como se fosse o Grêmio do outro lado.
Sendo assim, fico triste com a derrota do Internacional.
Gostaria muito de vencer o Gauchão, este maravilhoso e importante torneio! Não deu.
Vejamos o lado bom. Em não vencendo o Campeonato talvez, e só talvez, o Presidente mais cheio de soberba e mais arrogante da história do Inter veja que ele também erra. Talvez perceba que errou ao contratar Alecsandro. Errou ao trazer Fossati. E outros erros catastróficos.
A derrota ensina. A vitória mascara.
O Grêmio, ao vencer o Gauchão, perde a oportunidade de perceber o quão fraco é Leandro, e a falta de qualidade de seus laterais. E assim joga fora a chance de ser campeão de qualquer outro campeonato este ano. Essa é minha felicidade hoje. Dá-lhe Grêmio.
Vejamos o jogo de sábado.
Um empate. No papel, um empate. Mas em nossas consciências não. Em nossas consciências (aqueles que tem) sabemos muito bem que a equipe capitaneada por mim saiu vencedora.
Vencedora por estar na frente do placar da partida por dois gols até o momento em que Tchutchuca, o nosso Guiñazu, saiu de campo machucado. Sim amigos ele se machucou. Não fisicamente, mas em seu coração.
Triste como um homem pode ser ferido em seu coração por um amigo tão próximo, quase um irmão. Durante o jogo as repetidas roubalheiras e pataquadas do capitão da equipe adversária, deixaram nosso jogador tão fora de si, que este deixou o campo e foi a pé para sua residência.
O empate não escancarou a falta de espírito esportivo do adversário. Deveríamos ter perdido.
Me deixou desconfortável a cena do moço caminhando de cabeça baixa na Estrada da Serraria em direção à Vila Nova. Neste momento percebi que não sou o único que jogo uma Copa do Mundo na Arena Zona Sul. Tentei dar uma carona ao meu colega de equipe, mas ele recusou minha gentileza.
Estava certo. Só um momento consigo mesmo e sua própria consciência para digerir tamanha traição.
Um empate não mascara. Um empate não ensina.
Parabéns Grêmio, e feliz 2011, pois este ano, para você já terminou.